quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Uma mãe sem um bebê

Meu querido bebê, tudo começou com a descoberta da gravidez, que, embora não tenha sido planejada, foi motivo de muita alegria e amor desde que vi aquele segundo risquinho no teste, que era tímido, mas deixava claro para mim: vou ser mãe! 

E realmente eu fui! 

Assim como meu marido foi um pai incrível desde o exato momento em que contei o que tinha visto no teste.

Desde então, existiram mudanças de planos e de prioridades; tantas coisas que antes pareciam super importantes ficaram pequenas perto da grandiosidade do que acreditávamos que estávamos para viver. Pela primeira vez, não importava mais o que eu queria ou gostava; importava apenas que você, meu bebê, ficasse bem.

Existiram os enjoos fortes, o sono constante, as cólicas; existiram as mudanças de humor e o cansaço.

Durante esses 45 dias, existiu uma mãe e um pai.

Existiu todo o amor do mundo, existiram os sonhos e planos, e também muita preocupação contigo assim que o médico nos disse que não tinha visto você na ultrassom e, por isso, não tinha como nos dar certeza ainda se estava tudo bem.. Mas que poderia ser normal, apenas por ser uma gestação muito inicial e que a DUM estivesse errada. Novos exames seriam necessários. 

A partir de então, também existiu muita apreensão, incerteza, medos, lágrimas e também a esperança de que esse diagnóstico não passaria de um susto.E a esperança de que ouviria seus batimentos permanecia forte.

Durante todo esse tempo, existiu um companheiro forte e carinhoso ao meu lado para me acompanhar em tudo, para se animar e comemorar comigo a cada boa notícia e para sofrer por cada resultado de exame inconclusivo que vinha.

Devido à suspeita de que poderia haver algo errado, existiram inúmeras visitas aos médicos; até perdi as contas de quantos foram, assim como os exames quase diários que nos enchiam de esperança ao ver o beta subir e de um medo enorme de você não vir ao mundo quando algo não ia tão bem, isso tudo misturado com a vontade de aprender tudo sobre como sermos os melhores pais possíveis para você,  discussões sobre escolha de nomes, melhores bercinho e compartilhamento de roupinhas.

Assim que, sem querer, deixei vazar a notícia aqui, também passaram a existir avós orgulhosos e ansiosos, tios e tias cheios de expectativas, primos e primas cheios de alegria, e muitos amigos felizes e emocionados pela nossa felicidade.

Mas, apesar de tudo isso, há poucos dias veio a confirmação de que, apesar de tudo, você não existiu.

Por 45 dias, estive grávida sem ter um bebê dentro de mim. 

Ao invés de você, encontraram apenas um vazio, e ao invés dos teus batimentos, ouviu-se apenas o silêncio. 

Existiu tudo, menos um bebê. 





Recebemos o diagnóstico de que a minha gestação era anembrionária. Ou seja, existia uma placenta, existiam os hormônios e o espaço protegido em meu útero para você ficar, mas você não estava lá, você nem chegou a ser formado...

Meu corpo demorou para entender que você não iria aparecer e segurou seu cantinho dentro de mim até as 11 semanas, quando, enfim, vencido pelo cansaço, iniciou a expulsão, embora eu tenha sangrado muito, meu corpo mas não teve forças para fazer isso até o fim sozinho e precisei ficar internada e passar por intervenção médica. Tive alta e graças a Deus estou me recuperando fisicamente a cada dia.

Mas, embora bem fisicamente e sabendo que você não existiu, é inexplicável a dor de ter perdido algo que eu nunca tive.  Mas a dor é real, mesmo que você não tenha sido.

O médico foi duro ao me ver chorar com o diagnóstico e disse que 'não tem porque ficar triste, nem se quer formou um embrião'. Sim, eu entendo que você, meu bebê, não sofreu nada, mas acho que o que o médico não entende é que para mim, você existiu desde que vi o teste positivo, e sou sim, grata a Deus por poder ter sentido tamanho amor.

A verdade é que, embora você não tenha existido no meu útero, você existiu no meu coração. 

Sei que tudo tem a hora certa, e confio que Deu sabe o que é melhor para cada um de nós,  logo vou me recuperar e tocar a vida, mas também sei que ainda assim nunca vou esquecer de você! 

Amo você, meu bebê estrela.