segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A dor da despedida

 Mexendo em meus arquivos, encontrei esse texto que escrevi para a missa de corpo presente do meu nono. Que falta o senhor me faz, e como, agora que entendo algum italiano, queria poder te mostrar o que aprendi. 


SAUDADES... 

-------Há 9 meses atrás, esta capela vivia um momento de muita alegria. Estavamos juntos para comemorar os 80 anos de Victorino, Nono para mim. Hoje nos reunios uma ultima vez com ele nesta capela que ajudou fundar. Foi nesta comunidade que passou boa parte da vida. Construiu sua familia, fez amigos para a vida toda e trabalhou muito, de sol a sol. Sempre foi um homem de fé que verdadeiramente viveu o evangelho. Rezava pelos doentes, ajudava quem passava por necessidades e jamais deixou na mão quem dele precisou. Não consigo lembrar do Nono sem ser com um sorriso por baixo do bigode. Ou de alguma conversa que tivemos sem um brincadeirinha e risos no meio. Tenho orgulho de dizer que sou neta de um homem que sem estudos foi capaz de ensinar tanto a seus filhos e netos. Ensinou respeito, trabalho, fé, humildade e a importância da família. O orgulho que sinto por fazer parte de uma família unida é a ele que devo agradecer. Muitos foram os momentos de superação que sei que ele teve que passar e dos que vivenciei sempre vi o fazer com um brilho nos olhos. Uma vontade de viver, de fazer o melhor. Penso, Nono, que Deus te levou por saber que o seu corpo não tinha mais a vitalidade necessária para responder a toda essa sua vontade de aproveitar a vida. Asim o senhor poderá aproveitar uma vida plena e cheia de vigor ao lado dEle. Ainda assim, tenho que admitir que dói saber que não vou mais ter conversas animadas contigo, dançar nos bailes da 3ª idade ou beber um gole dos vinhos que fazia acompanhado de um bom pedaço de salame. Dói pensar que não vou te ver chegar da bodega e ganhar de ti algumas balas de menta. Ou ouvir-te falar coisas em italiano que nunca entendi. Dói saber que não vou te encontrar sorrindo por baixo do bigode em um domingo qualquer que eu for te visitar. Dói pensar que não posso te dar um abraço apertado e pedir para você se cuidar e ir me visitar quando puder. E se a 9 meses atrás te disse que o senhor era nosso bebê de olhos azuis, é destes olhos, agora fechados, que sentirei falta. Obrigada por seus ensinamentos, que os amigos e vizinhos a quem ajudou lembrem do que fez por eles e também ajudem sempre uns aos outros. Que a comunidade que construiu continue por muito tempo sendo simbolo da sua fé. E que a família se una ainda mais agora, que esqueça as diferenças e se apoiem mutuamente para que o senhor possa nos olhar ai de cima com orgulho. De ti nono, carregarei muito mais que o sobrenome. Carregarei os exemplos, as palavras, os abraços e até as lembranças das balas de menta. Posso não ter herdado os olhos azuis,mas quero por toda a vida carregar o brilho que via nos teus. Essa mensagem não terá um final bonito, pois quero que ela seja como sua vida que continuará através das nossas ações. Te Amo nono.


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